Práticas em Saneamento Ecológico
O problema da falta de água tem assombrado muitas pessoas no mundo todo. Por ano, 25 milhões de pessoas morrem devido ao consumo de água contaminada.
Ainda hoje, 1,4 bilhões de pessoas não possuem acesso à água potável e 2,4 bilhões de pessoas não possui saneamento básico (aproximadamente 1/3 da população global).
Por se tratar de um bem vital para a existência da vida, o bom uso dos recursos d’água se tornou um dos temas mais importantes do século XXI, tendo grande repercussão no Brasil, especialmente nos últimos anos.
Muitos desses problemas de escassez, que hoje enfrentamos, estão ligados a má conservação dos recursos hídricos.
O desmatamento de nascentes e a poluição dos mananciais com o despejo de esgoto in natura e/ou resíduos tóxicos são os fatos mais graves, perpetrados tanto por indústrias quanto por indíviduos, muitas vezes com aval do próprio poder público.
Nós já possuímos tecnologia suficiente para resolver esses problemas e evitar o colapso hídrico, utilizando práticas de saneamento ecológico econômicamente acessíveis e sustentáveis. Esses sistemas de tratamento e conservação dos fluxos d’água são eficazes tanto para comunidades rurais quanto urbanas.
Tudo está ligado ao modo como reaproveitamos os recursos e nos integramos ao ciclo da água. A abordagem sistêmica da água propõe que adequemos nosso uso de modo que a conservação e a reutilização dos recursos possa transformar modelos de escassez em sistemas de abundância.
Desastres ambientais como a contaminação das águas e do solo por substâncias tóxicas, dentre várias outras situações comuns que são ocasionadas pelo crescimento da atividade humana, são passíveis de terem suas consequências minimizadas pelo uso de técnicas de biorremediação.
Biorremediação é o processo pelo qual organismos vivos tais como, microrganismos, fungos, plantas, algas verdes ou suas enzimas são utilizados para reduzir ou remover/remediar contaminações no ambiente utilizando processos biodegradáveis para tratamento de resíduos. Este processo é capaz de regenerar o equilíbrio do ecossistema original.
O processo de reciclagem e purificação de águas é em certos aspectos bem simples. Temos que criar uma alternância de ambientes com oxigênio e sem oxigênio. Construir filtros com materiais porosos que irão limpar a água dos resíduos sólidos em suspensão. Estes materiais porosos podem ter tamanhos diferentes para reter todos os tipos de sólidos em suspensão. A dimensão do filtro esta relacionada com a demanda de águas servidas. Deve-se consorciar com plantas aquáticas que irão ajudar na filtragem e limpeza da água.
O processo de biorremediação se dá pelo fato de microrganismos, como as bactérias, utilizarem substratos orgânicos e inorgânicos, como exemplo o carbono, como fonte de alimentação. Desta forma, convertendo os contaminantes em CO2 e H2O.
Abaixo estão algumas das principais práticas de saneamento ecológico e biorremediação:
-Captação de água da chuva:
Esse modelo de captação normalmente é construído adaptado a telhados e redirecionado para cisternas construídas no subsolo da residência. A água armazenada pode ser utilizada para muitas coisas, inclusive para lavar a louça ou tomar banho. Para melhorar o seu uso é indicado construir um filtro de areia para que a água seja armazenada com menos impurezas na cisterna.
-Sanitários Compostáveis:
Sanitários compostáveis, ou banheiros secos, são muito bons para residências com poucos moradores. São excelentes alternativas para locais com poucos recursos hídricos. Seus maiores benefícios são:
*não utilizam água, por isso são importantes em áreas onde os recursos hídricos são escassos.
*evitam que os resíduos contaminem o solo, os rios ou mesmo o lençol freático.
*os resíduos compostados podem ser reaproveitados trazendo grandes benefícios para a agricultura.
– Bacias de Evapotranspiração:
A Bacia de Evapotranspiração consiste em um sistema de tratamento de esgoto em que a água da descarga vai para uma manilha de pneus dentro de um tanque submerso todo impermeável, construído em ferro-cimento, preenchido como em um filtro, com pedras maiores em baixo, pedras menores no meio e solo fertil em cima, onde são colocadas plantas de folhas largas como banana, taioba e heliconias.
Este sistema permite que a água da descarga seja devolvida para a natureza de forma limpa, pela transpiração das plantas e a parte sólida seja absorvida como adubo por essas plantas.
-Tanque ou Fossa séptica:
A fossa séptica, bastante difundida atualmente, é muito funcional como um primeiro estágio para redução da matéria orgânica no sistema. As águas residuais se separam em camadas e começam seu processo de decomposição. As bactérias presentes no sistema passam a digerir os sólidos transformando-os em líquidos ou gases. Por não metabolizarem todos os materiais presentes no sistema, é fundamental que periodicamente os sólidos acumulados sejam retirados.
-Tratamento por Brejos Construídos:
Os efluentes que adentram um brejo construído fluem dos tanques sépticos (ou de outra tecnologia de pré-tratamento) e são distribuídos por conjuntos de tubos na camada subterrânea, por baixo de uma camada de cascalho. A camada de cascalho se encontra em uma profundidade de setenta e cinco centímetros. A borda é desenhada para suportar picos de precipitação. Espécies apropriadas são plantadas no brejo. A manutenção é mínima, sendo necessária apenas a retirada de ervas daninhas e podas eventuais, para manter um bom aspecto.
-Tratamento em Tanques ou Lagos.
Em sistemas com tanques, os dejetos são armazenados em um ou mais tanques onde é feito um tratamento controlado de ciclo curto. Sistemas de brejos construídos ou baseados em lagoas são localizados ao ar livre, e costumam ocupar um espaço considerável apesar do baixo impacto ecológico.
A empresa de saneamento Organica combina a biologia de tratamentos naturais a tecnologias avançadas e computadorizadas para fornecer o sistema de tratamento de águas residuais mais avançado possível. Essa tecnologia é mais apropriada para sistemas com mais de 3000 integrantes e localizados em ambientes urbanos. O espaço físico é 15 vezes menor do que o de um brejo construído. Há uma troca entre a quantidade de terra utilizada e energia necessária para a operação. Mais informações: (www.organica.hu)
A quantidade de água disponível no planeta é sempre a mesma já que está sempre sendo renovada através do ciclo hidrológico. Entretanto a água de qualidade para consumo está se tornando rara devido a crescente quantidade de despejo de esgoto sem tratamento, de insumos químicos utilizados em ambientes urbanos, nas indústrias e nas atividades agrícolas.
Usar a água com consciência e se integrar aos ciclos hidrológicos, devolvendo ao ambiente a água utilizada em um estado igual ou melhor do que antes, apresentando soluções sustentáveis que amenizam e revitalizam os mananciais hídricos e ecossistemas é uma necessidade para sobrevivência humana. Compreender a água como a essência vital que flue nos rios, lagos, mares e no sangue que circula em nossas veias é honrar esse elemento sagrado essencial para a Vida no planeta.
Construídos de forma simples e elementar para atender as necessidades de saneamento ecológico em todos os tipos de ambientes, os filtros biológicos, fossas sépticas, banheiros secos e etc, apresentam-se como instrumentos que nos integram aos ciclos que interagimos cuidando da biorremediação da água que utilizamos.
Vamos preservar e reciclar os fluxos d’água!
Fontes:
_Apostila Ecológica – Gaia Education, 2014.
_Cartilha de Saneamento Ecológico da Aldeia da Mata Atlântica, 2015.